Deadlight

Fonte: UOL Jogos

CONSIDERAÇÕES

Primeiro projeto da espanhola Tequila Works, "Deadlight" mostra que o estúdio tem potencial. Visualmente, o jogo exala inspiração e esmero: os cenários detalhados, o jogo de luz e sombra e a trilha sonora transmitem a tensão em mais uma jornada em um apocalipse infestado de mortos-vivos.

Faltou integrar a bela história - contada em páginas colecionáveis - ao que é feito no jogo, desenvolver melhor os puzzles mortíferos ao longo da jogatina e polir mecânicas básicas. Ainda assim, "Deadlight" é um jogo que, mesmo longe de ser perfeito, vale a experiência e pede por uma continuação melhor elaborada.

INTRODUÇÃO

"Deadlight", da Tequila Works, é um dos destaques do Xbox Live em 2012. O jogo conta a história de Randall Wayne, um sobrevivente nas ruas de uma Seattle pós-infestação zumbi. Como tantos outros jogos do gênero, "Deadlight" não explica de onde vieram os mortos-vivos, aqui chamados de 'Shadows'.

O jogo não é um novo "Shadow Complex", mas sim uma espécie de "Limbo" com visual mais 'realista', onde é preciso evitar o confronto direto e procurar por alternativas para lidar com inimigos e obstáculos mortais.

A ação rola em 2D, num cenário tridimensional. Randall só interage com os zumbis e outros inimigos quando estes estão no mesmo plano que ele. O personagem se vale de poucas armas, assobios e um estilingue para resolver puzzles e lutar pela sobrevivência.

PONTOS POSITIVOS

Bela direção de arte
O apocalipse zumbi poucas vezes foi tão bonito quanto em "Deadlight". A Tequila Works caprichou nas paisagens destruidas, nas ruas abandonadas e na representação minimalista dos mortos-vivos, assustadores com suas silhuetas escuras de olhos vermelhos.

O jogo de luz e sombra, tanto nas amplas paisagens externas quanto nos claustrofóbicos interiores de casas, apartamentos e escritórios tornam o passeio pela Seattle arruinada memorável. A experiência é complementada pela trilha sonora, que adiciona ritmo e tensão às sequências de fuga mais movimentadas do jogo.

Muito da história de "Deadlight" é contada nos detalhes do cenário, com tanques de guerra e carros abandonados, zumbis perambulando ao fundo e mensagens deixadas nas paredes.

Momentos de tensão
Wayne não é nenhum super-soldado veterano na luta contra os mortos. O personagem conta apenas com um machado e um revólver para enfrentar a horda zumbi e bastam poucas mordidas para o personagem encontrar a morte.

Por isso, você precisa pensar em alternativas, como assobiar para atrair os Shadows até uma armadilha, como por exemplo, uma poça d'agua com cabos elétricos desencapados ou um vão entre 2 prédios.

Na maior parte das vezes, é melhor evitar o confronto e fugir por telhados, saltar de uma janela para outra e buscar abrigo longe das garras dos mortos-vivos.

Colecionáveis
"Deadlight" possui vários itens colecionáveis: as páginas do diário de Randall, que contam a história do protagonista, IDs de personagens mortos pelo caminho e outras peças escondidas, que contam a história do apocalipse no game.

Encontrar todos esses itens leva tempo e exige explorar o game mais de uma vez, procurando por entradas secretas e salas escondidas em pontos nada óbvios, o que aumenta a vida útil do jogo.

PONTOS NEGATIVOS

Ambientação mal aproveitada
A história de "Deadlight" é bem clichê, como a maioria dos apocalipses zumbis são atualmente. De fato, há uma cena copiada sem piedade de "The Walking Dead", que não passará despercebida pelos fãs do seriado da Fox.

Para se diferenciar, "Deadlight" apostou na ambientação: o jogo não se passa nos dias atuais nem no futuro próximo, mas em meados da década de 1980. Há algumas referências à filmes como "Rambo" e "Goonies", além da fitinha cassete na tela de loading, mas a Tequila Works poderia ter usado muitos outros elementos da década perdida em seu jogo.

A história de Randall é contada em seu diário. Para quem é familiarizado com o inglês, a leitura é envolvente, mas apresenta um personagem mais profundo e humano do que aquele que o jogador, de fato, controla.

Da trama toda, a parte melhor aproveitada envolve a família de Wayne, com direito à uma boa virada na última parte do jogo.

Puzzles elementares e problemáticos
Pelo menos a metade de "Deadlight" deixa os zumbis em segundo plano e concentra o jogo em uma série de armadilhas mortíferas, enquanto Wayne atravessa um complexo de túneis nos subterrâneos de Seattle.

O jogo perde muito do seu brilho aqui, ao confrontar o jogador com puzzles elementares, que exigem mais precisão na hora de saltar do que na solução dos quebra-cabeças em si.

Há dois pontos muito irritantes nos puzzles de "Deadlight": primeiro, você só consegue interagir com os objetos em uma ordem específica, mesmo quando já sabe o que precisa fazer: se algo bloqueia uma roldana, é preciso tentar ativar o sistema para então o jogo permitir que você derrube o objeto que está no caminho.

O segundo ponto problemático é o sistema de checkpoints: às vezes, você volta para o começo da tela onde morreu. Outras vezes, para o começo da fase, precisando refazer todo o percurso. Pelo menos uma vez, durante esta análise, Randall voltou para a beira de uma armadilha, morrendo automaticamente quando a partida começou.

A pior decisão do jogo foi a limitação artificial do movimento de Randall dentro d'agua: o personagem afunda e se arrasta com passos pesados, ao invés de nadar. Não há uma explicação de porque ele não nada: a água é tóxica? Randall carrega um colete de chumbo por baixo do casaco? Não sabemos.

Legendas que atrapalham
Boa parte da ação em "Deadlight", sejam inimigos ou armadilhas, aparece no nível do chão. É exatamente o mesmo nível em que aparecem as legendas do jogo, o que torna as coisas bem difíceis para o jogador, principalmente no último estágio.

Esperar Wayne parar de falar antes de agir nem sempre é uma opção. Como boa parte das frases consiste em clichês de jogos de terror, a melhor alternativa é desligar as legendas e seguir em frente.